quarta-feira, 2 de abril de 2014

Salvador em branco e preto



Salvador, uma cidade negra
Com uma elite ainda branca
Que fala uma língua ainda racista
Que adora a pomba branca, a paz branca, a pureza
Mas abomina a ovelha negra, o cisne negro, o urubu,
Ah, urubu, que segue desejando nossos corpos
Quando os outros só vêem fedor.
Que acaricia nossas vísceras
Com bicadas famélicas, decididas, assertivas

Nas ruas, negros pedindo esmola para outros negros
Nos palácios, brancos dando esmolas para outros brancos
Nas ruas, negros em situação de rua
Nos hotéis, brancos em situação de brancos,
“Turistas”, ah, turistas,
Escoltados por policiais negros que protegem os brancos de outros negros;
Comprando o mito de uma igualdade racial que nunca vem.

Em Salvador, esse mito é ainda mais emblemático
No teatro Jorge Amado, uma surpresa!
Um ator negro falando sobre racismo
Para uma platéia branca,
Majoritariamente branca,
Incrivelmente branca em uma cidade negra.
O ingresso de 50 reais os “peneirou”.
(O preço proibitivo peneirou o público)
Um protagonista negro,
Um humorista negro
Em uma comédia tragicômica
Que ironiza o mito da igualdade
Desigualdade que a platéia reforça com sua estranha brancura
Com suas gargalhadas racistas,
Diante de piadas discretamente racistas
Que zomba da pobreza negra e periférica
Mas é um ator negro,
Um protagonista negro,
Incrivelmente negro em uma platéia branca,
Incrivelmente branca em uma cidade negra,
Onde o racismo vai se tornando cada vez mais sutil, delicado...
E, portanto, mais poderoso.

No carnaval...
Todos atrás do trio
Alguns dentro da corda: compraram abadá
Outros fora: não compraram abadá

Isabel, a sábia princesa,
Libertou os senhores de engenho
Anistiou seus crimes e faltas,
Condenou os negros a pagarem o aluguel para morarem na senzala
e sentenciou:
Pra que a escravidão
Se nós temos o capitalismo?

Tony Gigliotti Bezerra.

Servidor da cultura

Fonte: http://revistarever.com/2014/02/26/violencia-no-carnaval-ou-o-carnaval-quem-e-que-faz/

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