domingo, 12 de outubro de 2014

Vale a pena o voto crítico em Dilma?

Vou escrever este texto para expressar uma indecisão. Vale a pena, enquanto militante de esquerda socialista, dar um voto crítico em Dilma no segundo turno das eleições presidenciais? Ou é melhor anular?

Kátia Abreu, famosa fazendeira, latifundiária, ruralista do Tocantins, declarou voto em Dilma. Sarney, Maluf, Collor e Renan Calheiros são antigos aliados do PT nestes 12 anos de peripécias no poder. PMDB e PP, partidos notadamente conservadores, são aliados prioritários do PT. Corrupção corre solta, como sabemos. Nestes últimos quatro anos, foi notável a privatização de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hospitais universitários. No trato com os movimentos sociais, a cooptação é a tática 1 e a criminalização é a tática 2. Como a tática 1 não tem funcionado nos últimos quatro anos, o PT não pensa duas vezes antes de usar a tática 2: criminalização. No Rio Grande do Sul, o jovem militante do PSOL, Lucas Maróstica, participante das manifestações, está sendo brutalmente perseguido política e judicialmente. Prisco, líder sindical da Bahia, ficou preso na Papuda, em Brasília, depois de participar de uma mobilização grevista. Só para citar dois exemplos.

Por outro lado, sabemos que ouve alguns avanços no sentido do combate à pobreza, via Bolsa Família, e alguns outros programas sociais. A política econômica do PT parece ter um viés mais keynesiano, enquanto o PSDB mais liberal ortodoxo. O PSDB tem, em tese, uma disposição maior de arrochar salário durante uma crise, como a que passamos. Houve muitas conferências nacionais e criação de conselhos para supostamente aumentar a participação social. Apesar disso,as resoluções das conferências, como as da Conferência Nacional de Comunicação, não foram cumpridas. Falou mais alto o acordo do PT com os conservadores que atravancam a democratização da comunicação.


Reforma agrária parada. Demarcação das terras indígenas e quilombolas paradas. É, acho que Kátia Abreu tenha mais motivos para votar em Dilma do que eu. Aliás, ela tem muito mais acesso ao gabinete da Dilma do que as lideranças de movimentos sociais. Em fevereiro deste ano, durante o Congresso do MST, em Brasília, Dilma foi ao Mato Grosso se encontrar com aliados e "comemorar" mais uma safra de soja. É deles que vem o dinheiro para fazer sua campanha multimilionária e é com eles que ela vai comemorar mais uma safra de votos, se vencer as eleições.



Dilma tem um importante histórico de luta contra a ditadura. Ficou presa durante quase três anos. Mas infelizmente a Dilma de hoje não é a mesma da juventude. A Dilma mudou. A Dilma está com Kátia Abreu, que está com a soja, que está com ouro, com a Dilma, com o agronegócio, com os transgênicos, com os agrotóxicos, com a monocultura, com a depredação ambiental, com o superavit na balança comercial, com a defesa da paz burguesa. Infelizmente.

Até agora, o principal argumento que ouço para votar em Dilma é o que o Aécio é pior. Esse é um argumento muito frágil.


Enfim, estou aberto ao debate. Talvez ainda possa ser convencido até o dia 26.

Meu partido, o PSOL, deixou em aberto: anular ou votar em Dilma: http://www.psol50.org.br/site/noticias/3014/seguir-lutando-para-mudar-o-brasil

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Luciana Genro – Socialismo sim!

“Há pessoas que não conseguem ver, nos outros, nada além dos vícios que carregam em si mesmos.” Leonel de Moura Brizola

Nestas eleições, existe uma candidata a presidente que defende o socialismo. O nome dela é Luciana Genro. Ela não tem muita atenção da mídia. Os magnatas da imprensa só acompanham os candidatos principais. E quem diz quem são os candidatos principais? A própria mídia, por critérios obscuros e questionáveis. A mídia escolhe os principais, a mídia escolhe os seus príncipes e os divulga exaustivamente, de modo que as pessoas acreditem firmemente que só os príncipes escolhidos pela mídia podem vencer as eleições.

Mas existe uma candidata que está fora deste principado midiático e que está chamando muita atenção nas redes sociais, por suas ideias firmes e coerentes, comprometidas com a transformação do Brasil. É a Luciana Genro, candidata do partido socialismo e liberdade. Uma mulher de luta, que esteve nas jornadas de junho, levou spray de pimenta na cara, como muitos de nós, e continuou lutando. Pois a nossa vida é feita de luta e só a luta muda a vida.

Mas ela tem sido criticada também por ser socialista. Então vamos falar um pouco sobre isso.

O que é o socialismo afinal?

O socialismo é a ideia de que todas as pessoas podem ser amadas e respeitadas pelo que elas são e não pelos bens que possuem. O socialismo é a flor que nasce no asfalto, enfrentando a rigidez dos costumes e o conservadorismo político e combatendo, antes de tudo, a ganância dos capitalistas.
Mas o socialismo não é uma ideia abstrata. Ele se materializa a partir das lutas concretas do povo por dignidade e direitos. Por exemplo, os garis do Rio de Janeiro eram oprimidos com salários baixíssimos e uma jornada massacrante de trabalho. Eles resolveram fazer uma greve para exigir, dos seus patrões e do governo, um reajuste salarial e melhores condições de trabalho. Nós, socialistas, apoiamos firmemente a luta dos garis.

Outro exemplo: quando os patrões queriam aumentar o preços das passagens de ônibus, em junho do ano passado, o povo saiu às ruas para rechaçar o aumento e defender o transporte coletivo como um direito de todos, a ser prestado de forma pública, gratuita e de qualidade. Os socialistas marcharam lado a lado com os manifestantes.

Outros exemplos: as mulheres que são vítimas de violência doméstica, os negros que são vítimas de racismo, a população LGBT que é vítima de homofobia, os indígenas que são expulsos de suas terras, os animais que são vítimas de inúmeros mal-tratos. Todos eles podem contar com o apoio dos socialistas. Pois o socialismo é a ideia generosa da emancipação humana e do combate a todas as formas de preconceito.

Foi lançado um vídeo em que alguns jovens capitalistas criticam uma das propostas de Luciana Genro: o imposto sobre grandes fortunas. Eles afirmam que isso geraria uma fuga de capitais do país. Então vejamos, países europeus, como França e Suécia, já possuem esse imposto. É fato que algumas pessoas, por ganância ou por ignorar os objetivos desta política, tentam enviar o dinheiro para o exterior, onde há menos impostos. Foi o que fez o ator francês Gérard Depardieu. Ele não percebe o mal que está fazendo para o seu país. Se ele trabalhou e ganhou o seu dinheiro no cinema francês, que é incentivado pelo governo francês, é evidente que, por responsabilidade social e política, deve pagar os impostos ao governo Francês, devolvendo à sociedade aquilo que ela investiu na promoção do cinema francês.

É importante lembrar que um erro não justifica o outro. Se Gérard Depardieu ignorou os esforços do governo francês para incentivar a cultura e o cinema e decidiu tirar o seu dinheiro da França, isso não significa que o imposto sobre as grandes fortunas deva ser retirado. É preciso que ele esteja aliado a uma política de controle de capitais, para evitar essa fuga. Ao mesmo tempo, é necessário um amplo processo de conscientização do povo sobre as políticas governamentais, para que elas hajam pensando no interesse público e não somente nos seus interesses pessoais. É assim que pensa o PSOL e a Luciana Genro.

Se você quer apenas especular no mercado de ações, enriquecendo às custas do trabalho dos outros, o PSOL não é o partido pra você.

Se você é um ricaço que pretende sair do Brasil caso Luciana aumente os impostos sobre sua fortuna, então o PSOL não é o partido pra você.

Se você acredita que todo mundo é movido exclusivamente por interesses mesquinhos e egoístas, o PSOL não é o partido pra você.

Se você quer uma legenda de aluguel, para fazer o jogo sujo da política, o PSOL não é o partido pra você.

Se você acha que os gays são cidadãos de segunda categoria, que eles só podem fazer uma união de bens e que o casamente é privilégio dos heterossexuais, então PSOL não é o partido pra você.
Mas se você acha que é possível, com a força extraordinária das nossas ideias, combater o capitalismo, o machismo, o racismo, a homofobia e todas as formas de discriminação, então seja bem vindo. O PSOL é o seu partido e a Luciana é a sua candidata.
Se você acredita que é possível construir um novo mundo socialista, com paz, fraternidade, trabalho, dedicação e amor, então seja bem vindo. O PSOL  é o seu partido e a Luciana é a sua candidata.

Pedimos o seu voto não somente para a Luciana presidente, mas para que você dê um voto de confiança no PSOL. Que vote PSOL de cabo a rabo nestas eleições. São cinco votos, nesta ordem: deputado estadual ou distrital, deputado federal, senador, governador e presidente. Vote na legenda 50 para deputado estadual, distrital e federal. Depois vote 500 para senador e também 50 para governador e presidente. O PSOL é o partido com mais candidatos a governador no Brasil: 26. Isso porque ele procura se consolidar como uma alternativa de esquerda no país, em todos os âmbitos de governo. Para votar na legenda, basta digitar 50 e deixe os outros números vagos. Você estará votando na legenda PSOL para ocupar os cargos do legislativo, defendo projetos e propostas condizentes com as ideias apresentadas aqui. Precisamos eleger uma boa bancada de deputados federais, estaduais e distritais, para termos voz e força para combater todos os felicianos e bolsonaros que aparecerem.

Não existe salvadora da pátria. Não adianta apenas votar e esperar que os eleitos trabalhem por nós. Nós somos as pessoas por quem nós estávamos esperando. Sejamos também nós a mudança que queremos ver no mundo.

O PSOL é um partido que existe para muito além das eleições, defendendo a luta social dos trabalhadores do campo e da cidade, dos indígenas, quilombolas e todos os segmentos que sofrem com a exploração capitalista.


Venha conhecer o PSOL. O partido do socialismo e da liberdade.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

As três formas de encarar os desejos

Há basicamente três maneiras de lidar com os desejos: sufocá-los, saciá-los ou sublimá-los. Vamos definir o conceito de desejo e depois falar sobre cada um destes métodos. Desejo é vontade de sentir prazer. Prazer é tudo aquilo que pode ser obtido por meio da excitação dos sentidos.


Sufocar é a tentativa de negação do desejo. Esse sentimento pode ser oriundo de diversos fatores: medo, repulsa, vergonha, pena. Pode também estar relacionado à sensação de incompatibilidade dos desejos com os princípios éticos e compromissos assumidos anteriormente. Uma pessoa em casamento fechado, por exemplo, pode sentir o desejo de se relacionar com uma terceira. No entanto, em função do compromisso assumido com seu cônjuge, decide sufocar o desejo.
Outra maneira de lidar com os desejos é buscando saciá-los. É quando, por exemplo, uma pessoa sente vontade de viajar e viaja, sente vontade de comer torresmo e come, sente vontade de beber cerveja e bebe, sente vontade de transar e transa, sente vontade de se lambuzar e se lambuza. É preciso lembrar, contudo, que os desejos nunca são completamente saciados, pois os prazeres carnais são temporários, passageiros, efêmeros. Os prazeres da carne nos escapam pelo vão dos dedos.
Alguns desejos podem ser saciados sem ofender a princípios éticos, outros não. A alimentação e o sexo, por exemplo, são prazeres que podem ser vivenciados sem ofender a ética, ou seja, sem prejudicar a si, as outras pessoas e o meio ambiente. Mas isso depende do que se come, como se obtém o alimento, com quem se transa e como se recrutou o parceir@ sexual.
Sublimar os desejos é remetê-los a Deus. Da mesma maneira que sublimar a dor é endereçá-la a Deus. Os espíritos mais evoluídos, que estão mais próximos de Deus, conseguem sublimar seus desejos e dores. Basta compreender que as vicissitudes desta existência material são temporárias. Se o desejo sexual vai acabar após o sexo, qual a diferença entre saciá-lo ou não? Existe algum objetivo na prática sexual para além do próprio prazer carnal? A procriação; a troca de energias. Existe algum objetivo em se alimentar? A aquisição de nutrientes essenciais à manutenção da vida. Qual o objetivo de determinado ato, para além do prazer temporário que ele gera? Essa pergunta deve ser feita por qualquer pessoa que almeja o progresso espiritual.

Sublimar os desejos é tarefa difícil para nós, espíritos em fase inicial ou intermediária de evolução. No mundo moderno, os cinco sentidos são estimulados a todo o momento. A indústria do marketing investe bilhões e bilhões de dólares em propaganda para convencer as pessoas a comprar mais e mais. Para isso, ela cria desejos que, na verdade, não temos. Trata-se de uma lógica muito perversa, na qual as pessoas são estimuladas a consumir mercadorias para saciar os seus desejos. E a indústria do marketing está sempre criando novos produtos e novos desejos, para que as pessoas continuem comprando e os capitalistas continuem lucrando. Onde isso vai parar? Ou os recursos naturais vão se esgotar ou as pessoas vão despertar para a necessidade de preservá-los e respeitá-los. Esperamos que a segunda hipótese prevaleça. Mas isso depende de uma mudança de paradigma e de mentalidade. É preciso aprender a contemplar a natureza sem querer apossar-se dela. É preciso vivenciar esta experiência de encarnação no mundo material sem perder a noção de que ela é temporária. É preciso despertar para o fato de que o corpo morre, mas o espírito permanece, que ele segue a sua jornada no caminho da fraternidade, da harmonia e do amor.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Marina Silva: uma análise pela esquerda

                 A candidata do PSB à presidência, Marina Silva, tem ganhado destaque na mídia e crescido nas pesquisas eleitorais. Apesar do pouco tempo de televisão, restam poucas dúvidas de que ela possui chances reais de vitória. Este é um breve artigo com apontamentos de tendências sobre o caráter político-ideológico de um eventual governo de Marina Silva. Primeiramente, é apresentada a localização da candidata no espectro ideológico e, posteriormente, algumas das potencialidades e riscos de um governo Marina, tendo em vista o conflito de classe no sistema capitalista.

                Marina é uma típica candidata centrista. Isso significa que ela busca a conciliação de classes, ou seja, quer agradar, ao mesmo tempo, a patrões e trabalhadores, ricos e pobres. Quando isso ocorre, o sistema de classes tende a ficar intacto, pois a classe dominante se favorece com essa suposta neutralidade, mantendo-se no controle das relações de trabalho. A candidata em questão não pretende interferir na lei que sustenta o sistema capitalista, que é a propriedade privada dos meios de produção. Ao contrário, acredita que há “capitalistas de mentalidade progressista” (termo usado por ela), entre eles Guilherme Leal, dono da empresa Natura. Ela não percebe, por exemplo, que a riqueza de Leal foi forjada a partir da exploração de milhares de trabalhadores terceirizados, os famosos “consultores da Natura”, que vendem os produtos da empresa e não gozam de quase nenhum direito trabalhista ou proteção social. Parece não se preocupar com a precarização do trabalho produzida por esse modelo pernicioso de negócio.

                Como definir se um candidato é de direita, esquerda ou de centro? Difícil tarefa. Utilizamos aqui a noção de que o governo de direita é favorável à ampliação da propriedade privada dos meios de produção. Neste sentido, defende a privatização das empresas estatais e redução da atuação do Estado na economia. Por trás dessa proposta está a ideia de que o Estado é incompetente, ineficiente e corrupto, invariavelmente; enquanto o empresariado compõe uma casta de pessoas competentes, eficientes, honestas e isentas. O governo de esquerda é aquele que combate a propriedade privada dos meios de produção, seja por meio da estatização das empresas privadas, (sobretudo em setores estratégicos, como energia, infraestrutura, transportes, telecomunicações, abastecimento de água, etc.), seja pela ampliação do provimento de serviços públicos estatais, nas áreas de saúde, educação, cultura, assistência social, entre outros, seja por meio do incentivo ao cooperativismo nos setores de maior concorrência, como alimentação, vestuário, hotelaria, comércio, etc. A ideia é a de que a sociedade pode se organizar sem a exploração de classe, ou seja, sem que uma pessoa lucre com o trabalho de outra.

O governo centrista é aquele que não possui uma posição ideológica estática no que se refere à ampliação ou redução da propriedade privada dos meios de produção, é como um barco que é levado para lá e para cá de acordo com o momento político e a correlação de forças entre trabalhadores e a classe dominante. Este parece ser o caso de Marina Silva. Se, por um lado, o financiamento privado da campanha aponta para um alinhamento com o patronato, o levante de junho, por outro lado, aponta para o reconhecimento do transporte público como um direito de todos, o que favorece a classe trabalhadora. Neste sentido, o governo buscará uma conciliação de classes para se equilibrar no poder.

             Dentro desta mesma lógica, vale fazer uns parênteses para situar o posicionamento ideológico dos outros candidatos à presidência, da esquerda para direita. Luciana Genro (PSOL), Zé Maria (PSTU), Mário Iasi (PCB) e Rui Costa Pimenta (PCO) são candidatos de esquerda. Dilma Roussef (PT), Marina Silva (PSB), José Maria Eyamel (PSDC) e Eduardo Jorge (PV) são candidatos centristas. Aécio Neves (PSDB), Levi Fidelix (PRTB) e Pastor Everaldo (PSC)  são candidatos de direita. Como todo processo de classificação, este não é isento de críticas e questionamentos. O projeto político de cada candidato é repleto de nuances e imbricações.

Um eventual governo de Marina Silva apresenta algumas potencialidades, sobretudo do ponto de vista ambiental. O principal motivo da saída de Marina do PT foi a divergência na condução da política ambiental e o atrelamento do governo Lula em relação aos interesses do agronegócio. Desse modo, é esperado que Marina promova alguns avanços na pauta ambiental, como por exemplo o combate ao uso indiscriminado de agrotóxicos e ao desmatamento das florestas e imposição de condicionalidades ao cultivo de plantas transgênicas. Ela deve fortalecer o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), entre outras áreas relacionadas à preservação do meio ambiente. Além disso, deve haver uma análise mais criteriosa dos projetos de grande impacto ambiental, como usinas hidrelétricas, rodovias, etc. A depender da capacidade de mobilização popular, pode haver avanço na demarcação das reservas indígenas, quilombolas e na reforma agrária.

Um governo de Marina Silva também apresentaria alguns riscos e debilidades. Um deles é o conservadorismo do ponto de vista dos costumes. As posições políticas de Marina são influenciadas pela sua visão religiosa. Ela é evangelista da Assembleia de Deus e recebeu o apoio dos fiéis para coleta de assinaturas quando da criação da Rede Sustentabilidade. Há risco de retrocesso no debate sobre legalização da maconha, regulamentação do aborto, direitos da população LGBT, entre outros. Em sua gestão como ministra do Meio Ambiente, ela recebeu críticas por priorizar a relação com ONG’s em detrimento da valorização dos servidores públicos. Além disso, o candidato a vice-presidente em sua chapa, Beto Albuquerque, é ligado ao agronegócio. Seu partido, PSB, apresenta em seus quadros diversos políticos conservadores. Há risco de uma degeneração do governo à direita.

Se Marina ganhar, tanto PT quanto PSDB disputarão o posto de aliado prioritário. Ela invoca o legado político de Lula e de Fernando Henrique. Isso é um ponto negativo, pois a síntese entre um governo de direita e outro de centro pode ser um governo de centro-direita. O tripé da política econômica do PSDB e do PT, que favorece os banqueiros, deve se manter inalterado, quais sejam: metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Pode haver um ajuste fiscal com arrocho salarial nos primeiros anos do governo. Quanto ao parlamento, procurará conciliar interesses e agradar a gregos e troianos para ter maioria. Não está descartada, no entanto, a possibilidade de uma redução do número de cargos comissionados ocupados em função de negociatas partidárias. Quanto à reforma política, pode haver alguma alteração, mesmo que pontual. A candidata prometeu governar apenas quatro anos e acabar com a reeleição. De modo geral, trata-se de um governo centrista, com possibilidades de avanços em algumas áreas, como o combate ao desmatamento, e retrocesso em outras, como o combate à homofobia, sem alteração substancial no sistema de classes no interior do capitalismo.


Tony Gigliotti, servidor público e militante do PSOL

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Xô show de dança - qual a cultura de quem não tem cultura?

"De acordo com a pesquisa SIPS – IPEA, realizada em 2010, 59,3% dos brasileiros nunca foram ao teatro, circo ou “show de dança”. Trata-se de uma abordagem de pesquisa que denota, por um lado, a preferência por manifestações culturais que privilegiam o distanciamento em palco e platéia e, por outro, a espetacularização do fazer cultural."

Segue abaixo, texto escrito como tarefa do Curso de Formações de Gestores Culturais dos Estados do Nordeste, após módulo sobre políticas setoriais e imersão cultural no Museu da Gente Sergipana, em junho de 2014.
Enunciado: Tendo em vista a discussão sobre públicos da cultura, o contato com diversas linguagens artísticas e com o Museu da Gente Sergipana, faça uma reflexão sobre os desafios que a conquista de públicos coloca para os gestores de cultura.
           
A conquista de público para os equipamentos e apresentações culturais realizadas e incentivas pelo Estado envolvem diversos desafios, tanto do ponto de vista da quantidade quanto da qualidade. O texto de Isaura Botelho e Maria Carolina Vasconcelos Oliveira (Centros Culturais e a formação de novos públicos) enseja diversas reflexões sobre o conceito de manifestação cultural e artística e o significado da palavra público. Neste contexto, busca-se analisar o Museu da Gente Sergipana e suas estratégias de relação com o público.
           Os conceitos de manifestação cultural e de público não são fixos e estanques. Eles são tão dinâmicos quanto a própria cultura. Uma situação emblemática ocorre quando os técnicos dos institutos de pesquisa perguntam às pessoas se elas já foram a um “show de dança”. A grande maioria responde que não. Isso porque elas desconsideram, por exemplo, as danças que ocorrem em sua própria comunidade, como o forró, o frevo ou o maracatu. A expressão “show de dança” remete a uma idéia de distanciamento entre palco e platéia, que não ocorre nestes tipos de dança. Em regra, qualquer pessoa já viu alguém dançar, sendo esta uma das mais espontâneas manifestações culturais, presente em inúmeras etnias. A abordagem da pesquisa, no entanto, faz com que as pessoas se sintam marginalizadas do fazer cultural, quando, na verdade, é o próprio método de pesquisa que valoriza uma manifestação cultural em detrimento de outra.
De acordo com a pesquisa SIPS – IPEA, realizada em 2010, 59,3% dos brasileiros nunca foram ao teatro, circo ou “show de dança”. Trata-se de uma abordagem de pesquisa que denota, por um lado, a preferência por manifestações culturais que privilegiam o distanciamento em palco e platéia e, por outro, a espetacularização do fazer cultural. Os shows e mega-produções são valorizadas em detrimento das manifestações artísticas do cotidiano, como a escolha do figurino ou vestimenta, a representação dos papéis sociais nos diversos contextos de trabalho e lazer ou até mesmo as inovações realizadas ao se selecionar e preparar os alimentos. A própria expressão “show de dança” é reflexo do anglicismo e da preferência pelas expressões culturais européias, especialmente dentro de formatações inglesas e francesas. Desse modo, este tipo de pesquisa acaba colaborando para que os cidadãos mais pobres se sintam marginalizados do fazer político e cultural. Isso porque os seus hábitos e práticas não são reconhecidos enquanto manifestação artística. A pesquisa SIPS – IPEA não perguntou, por exemplo, se a pessoa tem o hábito de ir à feira livre ou de conversar com o seu vizinho. Não seriam estas manifestações culturais tão importantes quanto ir ao teatro ou ao cinema?
            As políticas culturais muitas vezes não conseguem acompanhar o dinamismo do fazer cultural. Com as novas tecnologias de comunicação, novos ritmos, hábitos e práticas surgem e desaparecem com uma rapidez maior do que a capacidade dos gestores culturais de compreendê-las e utilizá-las na formulação das políticas. Um exemplo disso é o uso de redes sociais. Em poucas semanas, milhões de usuários do Orkut migraram para o Facebook, em um verdadeiro movimento de massas. A invenção de aplicativos para celulares também tem causado mudanças importantes nos hábitos das pessoas.
            A atuação do Estado na formação de público tem sido atrelada, historicamente, a uma promoção da cultura erudita e repressão da cultura popular. No Rio de Janeiro, por exemplo, os bailes funk foram proibidos e duramente reprimidos nos últimos anos, por uma suposta ligação com o tráfico de drogas. Projeto de lei do deputado Marcelo Freixo conseguiu reverter a proibição dos bailes. Isso mostra que o Estado ora atua na formação ora na repressão do público. Via de regra, opta por incentivar a formação de público para manifestações artísticas altamente aderentes ao sistema político e econômico vigente, como a música clássica e os museus, que via de regra contam a história a partir da versão dos vencedores, que estão no poder.
            O Museu da Gente Sergipana não está isento destas contradições, embora seja uma instituição que busca agregar novos públicos.          Uma das grandes qualidades do museu é a interatividade. Por meio de diversos mecanismos, a instituição busca aumentar a interação entre o público e o acervo. Um exemplo é a possibilidade de a pessoa gravar a declamação de um cordel e depois postar o vídeo no canal do museu no youtube. Desse modo, o público não é tratado como mero consumidor de cultura, mas sim como ator e fruidor.   
            No museu, chama a atenção a homenagem à Zé do Peixe, ex-funcionário da Marinha, que se tornou muito conhecido por nadar grandes distâncias indicando o caminho para as embarcações que precisavam ingressar no leito do Rio Sergipe, desviando dos bancos de areia. A exposição sobre Zé do Peixe é fruto de seu grande reconhecimento por parte da população local, e tem se tornado um mito em poucos anos após a sua desencarnação. Não se trata de uma homenagem oficialesca, mas de acolher um sentimento vindo do próprio povo, no sentido de manter viva a memória de um de seus cidadãos mais corajosos e emblemáticos.

            O museu também se destaca por agregar em seu espaço apresentações e manifestações da cultura popular sergipana. Trata-se de uma estratégia para tornar o museu mais visitado e reconhecido pela população. Desse modo, a formação de público envolve diversos desafios que vão muito além do número de freqüentadores, passando pelo processo de formação educacional das pessoas e do tipo de hábito cultural que desenvolvem. A cultura não é politicamente neutra. Muito pelo contrário, quando menos fala sobre política é quando mais se fala sobre política. Arte e política são inseparáveis, de modo que linguagens culturais aparentemente neutras podem estar a serviço da manutenção do sistema político tal como ele está colocado.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Por que não protestaram antes??? Uma resposta sincera.

Com essa onda de protestos anti-copa, algumas pessoas estão se perguntando: Se vocês sabiam que o Brasil sediaria a copa, porque não protestaram antes?
Primeiro, os movimentos sociais e os comitês populares da copa já vêm criticando as violações de direitos ocasionadas pelos grandes eventos há muito tempo.
Segundo: nós sabíamos que o Brasil ia sediar a copa. Mas não sabíamos que:
- Essa seria a copa mais cara da história;
- Que o Brasil ia gastar mais nessa copa, do que foi gasto nos últimos três mundiais somados.
- Não sabíamos que o Brasil seria entregue de mão beijada para os cartolas da FIFA e que o Congresso Nacional aprovaria uma lei para privilegiar a entidade.
- Que as pessoas seriam proibidas de transitar num raio de 2 Km ao redor dos estádios. Onde fica a liberdade de ir e vir?
- Que os comerciantes seriam proibidos de chegar perto dos estádios para trabalhar.
- Não sabíamos que mais de 250 mil pessoas seriam expulsas de suas casas para dar lugar às obras da copa. Isso nós não sabíamos.
- Não sabíamos que as empreiteiras lucrariam tanto com a copa, enquanto os trabalhadores seriam tão castigados.
- Não sabíamos que doze trabalhadores morreriam na construção dos estádios.
É por nos revoltar contra tudo isso que nós estamos aqui. Pra dizer que o povo não é idiota e que não vamos aceitar tudo isso calados.
Reivindicamos uma auditoria completa dos gastos da copa e responsabilização dos empresários e políticos corruptos.

Queremos justiça. Queremos dignidade. Queremos a convocação de uma nova Assembléia Constituinte, livre e democrática, pra mudar profundamente este sistema corrupto e falido.

sábado, 31 de maio de 2014

O que é uma morte tranquila?


“O envelhecimento destrói a juventude,
a doença destrói a saúde,
a degeneração da vida destrói excelentes atributos
e a morte destrói a vida.
Mesmo que você seja um excelente corredor, não poderá correr da morte.
A chegada da morte não poderá ser impedida com suas riquezas,
nem com passes de mágica,
nem recitando mantras
 e nem mesmo com remédios.
Portanto, é sensato preparar-se para a morte.”
Dalai Lama
               
O envelhecimento e a morte são tabus na sociedade moderna. Há pessoas que se ofendem com uma simples pergunta de “quantos anos você tem”. Há pessoas que se desesperam só em pensar que vão morrer. Não deveria ser assim. O envelhecimento e a morte são processos naturais, orgânicos. Evitar falar sobre eles não significa que você poderá escapar desse fenômeno. E se não podemos evitar a morte, é prudente preparar-se para ela, como diria Dalai Lama.

                Nosso corpo físico é como uma flor, que desabrocha, chega ao seu nível de pleno esplendor para logo depois começar a murchar e depois morrer. Essa é uma verdade inescapável. Mas há flores que são arrancadas mais cedo, quando ainda estão jovens. Certamente quem as arranca deseja presentear alguém, e inspirá-lo com a beleza que vem das flores mais lindas. Quem vê a flor sendo arrancada, talvez não entenda as intenções maiores que estão por trás daquele ato, mas certamente elas existem.

                Então, se o envelhecimento e a morte são tão certos quanto dois mais dois são quatro, devemos nos preparar. Há pessoas que até mesmo idealizam o que seria uma morte tranqüila: morrer dormindo, sem dor, quando já se está com 85 anos. Isso é uma morte tranqüila, dizem. Acredito que isso seja um engano. Pode ser que uma pessoa teve todo tempo do mundo para se preparar para morte, mas não o fez. O que determina uma morte tranqüila não é a idade ou a ausência de dor. O que faz uma morte ser tranqüila é a paz interior daquele que parte. É entender que esta vida é apenas uma etapa, inserida em uma longa jornada espiritual.

                E como adquirir esta paz interior?

                O único caminho é o desapego das coisas materiais e dos entes queridos. É reconhecer e valorizar o auxílio que os amigos e parentes lhe dão, sem se apaixonar-se por eles, sem se tornar emocionalmente dependente deles.

                É não ter nenhuma dívida para cobrar e nem para pagar. Não basta perdoar ao outro. Não basta pedir o perdão de Deus. É preciso perdoar a si mesmo. Para isso, é preciso reconhecer os seus erros e suas imperfeições. Dalai Lama dizia: “É melhor encontrar um defeito em você do que dezenas nos outros. Porque os seus você pode mudar.” Para encontrar um defeito em você, é necessário fazer uma profunda e contínua reflexão sobre os seus atos e palavras, sobre como eles afetam os outros, como eles impactam nos direitos, na dignidade e na auto-estima do outro.

                Uma morte tranqüila é aquela em que não se carregam dívidas. E a dívida é sempre uma relação bilateral. Não é só o devedor que se prejudica com a dívida, mas também o credor. Há pessoas tão convencidas de que o outro lhe deve alguma coisa que o fica perseguindo e obsediando não somente nesta vida, mas também após a desencarnação. Da mesma maneira, há pessoas que levam para outras vidas as culpas que desenvolveram em encarnações anteriores.

                Outro elemento importante é confiar nas leis de Deus. É saber que nada acontece na nossa vida por um acaso. Não que Deus tenha escrito a história de cada um e que somos meras marionetes das intenções divinas. Não! Não é Deus que atribui indiscriminadamente intenções nas coisas que acontecem em nossas vidas. Somos nós que atribuímos essas intencionalidades. Por exemplo, quando você está andando na rua, pode tropeçar em uma pedra e se desequilibrar. Aí uma série de coisas podem ocorrer a partir deste fato. Você pode se irritar com o governo, que não cuida da calçada. Pode se irritar com a pessoa que deixou a pedra ali. Pode se irritar com o agente público que teria a missão de cuidar da calçada e não cuidou. Você pode se irritar com Deus, que supostamente não deveria deixar que isso acontecesse. Você pode se irritar consigo mesmo, pensando que o acaso te atrapalha e o azar sempre te persegue. Você pode ainda não se irritar, tirar tranquilamente a pedra do caminho para evitar que outras pessoas se desequilibram e caiam. Você pode ainda agradecer a Deus por evitar que você caísse, apesar de ter se desequilibrado. Pode ainda agradecer a Deus por te dar a chance de realizar a boa ação de tirar a pedra do caminho.

                Repare que, em todas estas situações, não foi Deus quem deu um sentido para aquela eventualidade, foi você. E se você pode extrair o lado bom das coisas ruins, então isso é o mais prudente a fazer.

                Deus é o criador das leis naturais e morais, que são auto-aplicáveis. Não é Deus que faz um objeto cair no chão quando ele é solto no ar. Mas é Deus quem criou a lei da gravitação universal, por ser Deus a causa primeira de todas as coisas. Não é Deus que faz com que as suas boas ações retornem pra você, nem é Deus que te pune pelas suas más ações. Mas é Deus o criador da lei do Karma, que se aplica indistintamente a todos os espíritos, encarnados e desencarnados. A lei do Karma pode ser assim resumida: aquilo que você faz ou pensa de ruim, retorna para você; aquilo que você faz ou pensa de bom retorna para você.

                Isso é mais fácil de entender quando analisamos as nossas emoções e sentimentos puros: a raiva, o medo, a alegria, o amor. A raiva só é ruim para quem tem. O medo afeta quem o está sentindo. A alegria é boa para quem sente. O amor sincero ao outro enche os nossos corações de alegria. Não somente os sentimentos, emoções e pensamentos são reflexivos, mas também os nossos atos e palavras. Os atos e palavras nada mais são que espécies de irradiações dos nossos pensamentos. Uma pessoa muda não pode falar com palavras, mas fala com gestos, com o olhar, com o semblante. Uma pessoa tetraplérgica não pode realizar uma série de atos, mas pode realizar outros, com os movimentos da face, como falar. Os espíritos desencarnados, sem o auxílio de médiuns, não podem falar e fazer, mas podem irradiar energias, transmitir pensamentos. Estamos o tempo todo suscetíveis à influência destes pensamentos e irradiações.

Pessoas encarnadas também irradiam energias e vibrações. Isso pode se dar de maneira mais sutil ou mais ostensiva. A palavra é mais ostensiva que o olhar. E os atos são mais ostensivos que as palavras.

Na figura, é apresentada esquematicamente a gradação das irradiações espirituais, da mais sutil para a mais ostensiva. Isso não significa, necessariamente, que a irradiação de maior impacto físico serão necessariamente as mais construtivas ou mais destrutivas. Quantas vezes já ouvimos palavras que soaram como verdadeiras cacetadas? Ou um olhar raivoso, que prenuncia uma grande guerra? Ou um olhar capaz de transmitir toneladas de amor, paz e compreensão? O ato mais ostensivo é aquele que gera mais efeitos físicos, mas não significa que ela gera mais efeitos emocionais ou espirituais.
                
Em qualquer caso, a lei do Karma opera. As emoções e sentimentos realizam movimento pendular. O bem que se faz ao outro vai e volta. O mal que se faz ao outro vai e volta. Um momento de prazer intenso prenuncia o momento seguinte, de abstinência, de ausência de prazer, de dor. Tudo tende ao equilíbrio.

Deus não aplica a lei do karma de maneira personalista, parcial, discriminatória. Ao contrário, ele criou a lei do Karma da mesma maneira que criou a lei da gravitação universal: auto-aplicável, onipresente, universal. Assim, para que obtenha paz interior, não basta pedir a Deus, é necessário conhecer as leis morais e aplicá-las na sua vida. Para isso, é necessário disciplinar a mente, de modo que aprendamos a emitir somente as boas irradiações. Evidentemente, não é tarefa fácil. Vivemos em um mundo habitado por muitos espíritos com visão mercantil, capitalista, que acreditam que tudo está baseado na troca. Troca de sentimentos, de sensações, de favores, de dinheiro. Acreditam, dessa forma, que só devem fazer o bem para quem lhes faz o bem, e que devem ignorar aquelas que não lhes fazem o bem e que devem amaldiçoar aquelas que lhe fazem o mal. Das duas uma, ou ignoram a lei do Karma ou não a aplicam em suas vidas. Jesus discorreu brilhantemente sobre esta questão: “Aprendestes que foi dito: ‘Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos.’ Eu, porém, vos digo: ‘Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. - Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?’” (S. MATEUS, cap. V, vv. 43 a 47.)


“Nada mais perigoso que um bom conselho acompanhado de um mal exemplo.” Se entendemos a lei do karma, precisamos fazer todo o possível para aplicá-lo em nossa vida. E isso necessita, muitas vezes, de uma mudança de vida.

Uma morte tranqüila passa necessariamente por uma vida tranqüila. A morte do corpo físico é, na verdade, a desencarnação. O espírito é despojado do corpo e continua a sua longa jornada. Quando você acorda, pense se existe algo que você não poderia deixar de fazer antes de desencarnar. Pense se aquilo é realmente necessário, pense se não se trata de coisas que só vão acionar o seu ego, sua vaidade e seus prazeres carnais. Essas coisas são supérfluas.

“Há apenas dois caminhos para o ego: ou ele está satisfeito, ou ele é insaciável.”

Se você tem dívidas a pagar, pense porque ainda não as quitou, ou pense se você não pode se perdoar. A dívida oriunda do financiamento de um imóvel, por exemplo, pode ser paga por outras pessoas após sua desencarnação. Ou se pode devolver o imóvel. Não se preocupe com ela. Procure estar em dia com as dívidas que você contrai e que você considera justas. Se você está em dia com o financiamento do seu imóvel, então você não tem nenhuma conta a pagar, pelo menos até aquele momento.

Por outro lado, se uma pessoa tem uma dívida com você, talvez seja o momento de perdoar, ou pelo menos o momento de se tranqüilizar diante da possibilidade de um calote. Se você emprestou, é porque tinha o que emprestar. Você não emprestaria algo que você mesmo está usando. Se emprestou, é porque aquilo era, de alguma maneira, supérfluo para você, pelo menos naquele momento. Perdoe o outro pela possibilidade de dar um calote. Perdoe-se a si mesmo por se arriscar a levar um calote, no momento em que emprestou. Logo perceberá que a própria dívida pode ser perdoada.

Recapitulando, para ter uma morte tranqüila é necessário ter uma vida tranqüila. Para ter uma vida tranqüila, é preciso conhecer a lei do karma, aplicá-la na sua vida, perdoar a tudo, a todos e principalmente a si mesmo, desapegar-se de todos os bens materiais que você tem e também daqueles que almeja possuir e desapegar-se emocionalmente de seus parentes e amigos, pois eles vieram para complementar a sua felicidade e não são a causa fundamental de sua vida. O propósito da vida é conectar-se com Deus, a partir de sua paz interior, da disciplina da mente, do contato franco e sincero com o divino, que transparece no contato franco e sincero com o outro.


Martinho Lutero: “Você não pode impedir que um pássaro pouse na sua cabeça, mas pode impedir que ele faça um ninho.”

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Dilemas da política cultural brasileira

Segue abaixo, texto sobre política cultural, escrito como atividade de avaliação do 2ª módulo do Curso de Formação de Gestores Culturais, que estou cursando.

Descreva, suscintamente, o que você considera como sendo os dilemas das políticas culturais no Brasil contemporâneo.


As políticas culturais brasileiras deparam-se diante de alguns dilemas, correspondendo a clivagens que expressam tensões sociais . Neste texto, abordaremos algumas delas: a tensão entre cultura como direito social e cultura como um negócio privado; a tensão entre federalização e municipalização e a tensão entre padronização dos serviços e respeito à diversidade cultural.

O principal dilema das políticas culturais brasileiras é como é por quem os serviços  culturais serão prestados. Na Constituição, reconhece-se que a cultura é direito de todos, sendo que o Estado tem o dever de garantir o pleno acesso aos bens e serviços culturais aos seus cidadãos. Apesar disso, a maior parte da produção cultural fica a cargo de entidades privadas, cujo principal objetivo é o lucro. Essa é uma lógica incompatível com a perspectiva da cultura como um direito. Os altos preços dos serviços em algumas linguagens culturais, como teatro e cinema, fazem com que ela seja um privilégio de poucos.

A distribuição dos recursos da área cultural ainda é marcada por grandes distorções. Enquanto o Fundo Nacional de Cultura possui aproximadamente 300 milhões de reais por ano, a política de isenção fiscal recebe mais de 1,5 bilhão. Isso gera uma grande concentração dos recursos nos produtores de São Paulo e Rio de Janeiro, onde estão instaladas as sedes das grandes empresas. Com isso, os produtores culturais ficam a mercê dos interesses das corporações, que, muitas vezes, só financiam as atividades que possam gerar ganhos de publicidade e propaganda. Esta realidade poderá ser alterada a partir da discussão e aprovação do projeto de lei do pró-cultura, em tramitação no Congresso Nacional. Trata-se de um projeto que, se bem aplicado, permitirá a redução destas distorções e disparidades.


Para reverter esse processo, é necessário que a sociedade, por meio do Estado, conquiste o seu protagonismo na criação, distribuição, fruição e acesso dos bens e serviços culturais. Enquanto, nas áreas de saúde e educação, existe a noção de que o Estado deve fortalecer e empoderar os hospitais e escolas públicas, no caso da cultura não existe esta clareza. Teatros, museus e bibliotecas públicas são crescentemente sucateados, enquanto as atividades artísticas são realizadas essencialmente por entidades privadas. Existe a noção de que o professor deve ser um servidor público, mas ao artista a única alternativa é submeter-se aos ditames e vicissitudes da iniciativa privada, cabendo ao Estado somente incentivar os grupos privados. Há poucas companhias públicas de música, no formato de orquestras sinfônicas, e as que existem estão ainda muito ligados à influência da cultura erudita europeia e desconectados da cultura popular.

Outro dilema corresponde à tensão entre federalização e municipalização, ou seja, não há uma definição de quais serviços culturais devem ser prestados por União, estados municípios ou Distrito Federal. Atualmente, eles atuam concorrentemente em todas as áreas, gerando sobreposições e falta de eficiência na condução da política. Espera-se que, com a implementação da Comissão Intergestores Tripartite do Sistema Nacional de Cultura, esta questão possa ser melhor equacionada, definindo as atribuições de cada nível da federação na condução da política cultural, com destaque para os municípios, que estão mais próximo do cidadão.

Em terceiro lugar, destaca-se o dilema da padronização dos serviços e procedimentos versus a diversidade e dinamismo do setor cultural. No Programa Cultura Viva, muitos grupos tiveram dificuldade em cumprir os requisitos e padrões de prestação de contas. No Sistema Nacional de Cultura, é disseminada uma estrutura padronizada de gestão, composta por conselho, plano, fundo, órgão gestor e conferência de cultura. Ao mesmo tempo, a imposição destas regras rígidas pode dificultar a sua adaptação à realidade de municípios pequenos. A criação de padrões é, em si mesmo, um movimento cultural que pode causar perdas de diversidade em algumas situações. Equilibrar padronização e flexibilidade é outro desafio para a política cultural brasileira, sobretudo se considerarmos as dimensões continentais do Brasil.


Desse modo, as políticas culturais brasileiras enfrentam dilemas muito importantes, que só podem ser equacionados a partir de um amplo e respeitoso debate com todos os atores envolvidos. Ao mesmo tempo, constata-se que alguns nós só podem ser desatados se houver o enfrentamento direto com grupos e interesses muito poderosos, de entidades privadas que se favorecem do financiamento público. A cultura precisa ser compreendida como prioridade na agenda de políticas públicas. O fortalecimento das políticas culturais só podem ser obtido com mais investimentos e equipamentos e com a valorização dos servidores públicos da área cultural.

Pedir desculpas? Eu?

                Pedir desculpas pelas suas faltas pode ser muito mais difícil do que desculpar as faltas dos outros. Para desculpar o outro, é preciso reconhecer os erros dele. Mas para pedir desculpas, é preciso reconhecer os seus próprios erros e perdoar-se a si mesmo. Tarefa que pode ser penosa e difícil e que exige altas doses de amor e desapego.
Dalai Lama dizia: “É melhor encontrar um erro em si mesmo do que dezenas nos outros. Porque os seus você pode mudar.” Apesar disso, é mais difícil encontrar um erro em si mesmo, pois implica em reconhecer as suas próprias falhas, golpeando a espinha dorsal do egoísmo. Mais difícil ainda reconhecer os seus erros sem que isso afete a sua autoestima. Muitas vezes, a pessoa que reconhece o erro sente-se tão mal e fraca que não consegue se reeguer. Despojada da vaidade, acaba caindo nos descaminhos da baixo-estima. Desse modo, pedir desculpas é reconhecer-se corajoso o suficiente para enfrentar a apreciação pública de seus defeitos, sem que isso abale a sua autoestima e equilíbrio emocional.
                O pedido de desculpas é um ato público de reconhecimento de uma falta. Para se chegar a ele, no entanto, outras etapas precisam ter sido superadas: reconhecer intimamente o erro e perdoar-se por ele. Conforme o esquema abaixo:

Caminho do Perdão

                
Mas será que devemos pedir desculpas mesmo quando não reconhecemos o erro cometido? 

            Essa é uma questão complexa, que envolve muito meandros. Ao se deparar com uma pessoa que se ofendeu com um ato cometido por você, via de regra, é melhor se retratar.
Mas por que, se não fui eu quem errei?
Você pensa que não errou. “Você não é aquilo pensa que é. Você é aquilo que pensa.” Quando você faz ou diz algo, seus atos e palavras entram em contato com o campo mental de outra pessoa, fugindo ao seu controle. Você pode controlar aquilo que fala e diz, mas não pode controlar o modo como seu interlocutor receberá e tratará aquela informação. Suas palavras e atos, ao interagir com o outro, é interpretado a partir de um complexo conjunto de experiências e memórias do interlocutor. Palavras que parecem inocentes a você podem ter efeitos altamente destrutivos para a autoestima do interlocutor, podem fazê-lo lembrar de experiências negativas do passado, lembranças com as quais ele não sabe lidar muito bem. Por mais que suas intenções tenham sido boas ao proferir aquelas palavras, elas podem ser recebidas como uma grave ofensa, por incidir na sua identidade, sua cultura, seus valores morais, sua família, sua religião, sua organização política.
Quem melhor sabe sobre a gravidade de uma ofensa é aquele se sentiu ofendido. Se o autor soubesse que aquilo seria entendido como uma ofensa, provavelmente não o teria cometido. De modo geral, uma declaração é entendida como uma ofensa por ir contra os valores e ideias da pessoa ofendida. A gravidade de uma ofensa depende, dentre outros fatores, dos seguintes:
·         Do valor moral que o ofendido atribui ao ofensor.
A pessoa vai se sentir mais ofendida quando há uma quebra de confiança. Quando você espera que uma pessoa aja de determinada maneira e ela age de outra forma, contrária às suas expectativas.
·         Do assunto tratado na ofensa.
Se o ofensor tratou um assunto sensível para o interlocutor, abordando uma questão mal resolvida, uma declaração pode ser entendida como uma ofensa. Se você chama de louco uma pessoa qualquer, ela pode se sentir ofendida ou não. Mas se é uma pessoa com histórico de internações em hospitais psiquiátricos, as chances de isso ser entendido como uma ofensa pode ser maior. A sua declaração pode ter reativado um mantido processo de estigmatização, que você desconhecia completamente.
·         Da forma como o ato ou palavra foi feito ou proferido.
De forma geral, a maneira como uma declaração foi feita pode ser vista como agravante ou atenuante. Entre os agravantes estão: o tom irônico, prepotente ou de deboche; o não-reconhecimento posterior da falta. Entre os atenuantes estão: a maneira acidental ou não-intencional como ocorreu o fato.

Se o outro está ofendido com o que você disse, peça desculpas, mesmo que, naquele momento, você não tenha sido capaz de reconhecer o erro. Pode ser que futuramente você o reconheça e aí pode ser tarde demais. O Perdão é libertador. É melhor pecar pelo excesso que pela falta. Mas e quando aquele erro implica em consequências futuras? E quando reconhecer o erro implica em reconhecer uma dívida? Todo erro é uma dívida, assim nos ensina a lei do Karma. A questão é se essa dívida deve ser paga diretamente à pessoa ou grupo ofendido, ou se deve ser pago indiretamente, por outros meios.
Voltemos à pergunta: devemos pedir desculpas mesmo quando não reconhecemos o erro cometido?
Quando o pedido de desculpas não implica em um reconhecimento de dívidas dispendiosas, quando o pedido de desculpa possa gerar efeitos positivos para a sua relação do outro, sem insuflar o seu ego, quando o pedido de desculpas implique em um mero reconhecimento da possibilidade de ter ofendido alguém, mesmo que essa não tenha sido a sua intenção, então ela pode ser um bom caminho. Trata-se, neste caso, de reconhecer a possibilidade de haver cometido um erro na forma, mas não no conteúdo do ato.
Por outro lado, se o pedido de desculpas implica no reconhecimento de dívidas pessoais que você não está disposto a pagar, se o pedido de desculpas implicar em ceder à chantagem do outro ou possa insuflar o seu ego, então desculpar-se pode não ser o melhor caminho.
Em síntese, pedir desculpas implica em reconhecer, em alguma medida, a sua própria imperfeição. Pedir desculpas é reconhecer, no outro, alguém que pode estar sinceramente ofendido pelos seus atos e palavras, seja pelo seu conteúdo ou pela forma com que elas se revestiram. É um ato de amor, capaz de romper laços cármicos muito antigos e poderosos, que remontam a tempos imemoriais.

Devemos desculpar alguém que não pediu desculpas?

Trata-se de outra situação muito complexa. Se ele não pediu desculpas a você, significa que ele não percorreu inteiramente o caminho o perdão, que passa por pelo menos três fases: reconhecer o próprio erro, perdoar-se a si mesmo, expor publicamente seu pedido de desculpas. A primeira fase, de reconhecer o próprio erro, pode se dar de diversas formas e gradações. Pode ser um reconhecimento substantivo de que sua ação causou dano ao outro ou o reconhecimento hipotético de que sua ação pode ter sido interpretada como uma ofensa, embora essa não tenha sido a intenção. Em ambos os casos, pedir desculpas implica em reconhecer, de alguma maneira, as suas imperfeições enquanto pessoa humana.
Se uma pessoa não pediu desculpas, significa que ela não passou pela primeira fase, não passou a segunda fase ou não chegou a terceira fase. Pode se que a pessoa reconheceu o erro, mas não se perdoou. Como ela não foi capaz de se perdoar, talvez suponha que as outras pessoas também não serão capazes. Se ela pula a segunda fase, o pedido de desculpas pode significar um desequilíbrio na autoestima. Por que pedir desculpas para alguém se você mesmo não se perdoa? Por que achar que o outro seria capaz de fazer algo que você mesmo não é capaz, sobretudo considerando que o ofendido foi o outro? Por que achar que o outro lhe perdoaria por algo do que você mesmo não se perdoa? Seria uma incoerência.
O pensamento é recíproco: se fosse o contrário, você perdoaria o outro? Se fosse você o ofendido, você o perdoaria? Perdoar-se a si mesmo, implica, de alguma maneira, em fazer este exercício de se colocar no lugar do outro, analisar a sua capacidade de perdoar o outro e, assim, ser capaz de se auto-perdoar.
O fato de ter passado pela primeira e pela segunda fase não significa, necessariamente, que ele chegará à terceira. A retratação ou pedido de desculpas exige altas dosas de coragem política. É necessário ter capacidade de expor, humildemente, seu erro, e colocá-lo á apreciação do outro.
Dito isso, vamos ao mérito da pergunta: devemos desculpar alguém que não pediu desculpas?
- Sim.
- Mas como, se o outro não pediu desculpas?
Como dissemos anteriormente, o pedido de desculpas é o coroamento final de um longo processo de debate interno, no qual a pessoa se coloca frente a frente com seus próprios defeitos e imperfeições. Vale lembrar que nem todas as pessoas estão condições de passar por este longo processo, mantendo a sua dignidade e humildade, mantendo seu equilíbrio emocional.
Se você está ofendido com uma pessoa ou grupo, das duas uma: ou você se iludiu e depois se decepcionou com o comportamento dela, ou você já esperava, ao menos em tese, que isso pudesse acontecer. Se você já esperava que isso pudesse acontecer, então a ofensa em nada lhe surpreende, sendo que você já devia estar previamente preparado para enfrentar a ofensa e perdoá-la. Se você se iludiu e depois se decepcionou, então compartilha a culpa com o seu ofensor: foi você quem criou expectativas equivocadas sobre aquela pessoa.
O perdão não deve ser condicionado ao pedido de desculpas do ofensor. Não há mérito nenhum em perdoar aquele que já pagou a sua dívida.
Perdoar é ato pleno de amor e desapego. Não há porque condicionar ao pedido de desculpas. Se você reconhece que o outro te ofendeu, mostrando-se insensível aos danos que causaria a você, então ele também pode ser incapaz de perceber o erro que cometeu.
A raiva só é ruim pra quem sente. Da mesma maneira o rancor e mágoa. Analogamente, o principal beneficiário com o perdão é a própria pessoa que perdoa. Condicionar o perdão ao pedido do ofensor é confundir a própria essência do perdão. É achar que o maior beneficiário com o perdão é o ofensor, quando, na verdade, é o ofendido. Ao perdoar, ele rompe o círculo vicioso da violência e abre a possibilidade de o moinho da vida girar em outro sentido. Perdoar é libertar-se de laços cármicos de ódio e rancor.
Vale dizer que, quando ofendemos alguém, é a lei moral que são ofendidas. Quando fazemos algo que prejudica o outro, é a nós mesmos que estamos prejudicando. Tudo que fazemos de mal ao outro retorna para nós, por uma reação mecânica, automática, independente da vontade do outro. Tudo que fazemos de bem ao outro retorna para nós, a partir dos mesmos critérios. Leis morais são irrevogáveis.

“Que um dia possamos despertar deste longo sono e perceber o quão infantil e primitiva é a nossa raiva, fúria, ódio, mágoa, rancor, recalque e desejo de vingança. Neste dia, vamos nos perdoar mutuamente, sorrir um para o outro, nos abraçar e trabalhar juntos.”