domingo, 12 de outubro de 2014

Vale a pena o voto crítico em Dilma?

Vou escrever este texto para expressar uma indecisão. Vale a pena, enquanto militante de esquerda socialista, dar um voto crítico em Dilma no segundo turno das eleições presidenciais? Ou é melhor anular?

Kátia Abreu, famosa fazendeira, latifundiária, ruralista do Tocantins, declarou voto em Dilma. Sarney, Maluf, Collor e Renan Calheiros são antigos aliados do PT nestes 12 anos de peripécias no poder. PMDB e PP, partidos notadamente conservadores, são aliados prioritários do PT. Corrupção corre solta, como sabemos. Nestes últimos quatro anos, foi notável a privatização de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hospitais universitários. No trato com os movimentos sociais, a cooptação é a tática 1 e a criminalização é a tática 2. Como a tática 1 não tem funcionado nos últimos quatro anos, o PT não pensa duas vezes antes de usar a tática 2: criminalização. No Rio Grande do Sul, o jovem militante do PSOL, Lucas Maróstica, participante das manifestações, está sendo brutalmente perseguido política e judicialmente. Prisco, líder sindical da Bahia, ficou preso na Papuda, em Brasília, depois de participar de uma mobilização grevista. Só para citar dois exemplos.

Por outro lado, sabemos que ouve alguns avanços no sentido do combate à pobreza, via Bolsa Família, e alguns outros programas sociais. A política econômica do PT parece ter um viés mais keynesiano, enquanto o PSDB mais liberal ortodoxo. O PSDB tem, em tese, uma disposição maior de arrochar salário durante uma crise, como a que passamos. Houve muitas conferências nacionais e criação de conselhos para supostamente aumentar a participação social. Apesar disso,as resoluções das conferências, como as da Conferência Nacional de Comunicação, não foram cumpridas. Falou mais alto o acordo do PT com os conservadores que atravancam a democratização da comunicação.


Reforma agrária parada. Demarcação das terras indígenas e quilombolas paradas. É, acho que Kátia Abreu tenha mais motivos para votar em Dilma do que eu. Aliás, ela tem muito mais acesso ao gabinete da Dilma do que as lideranças de movimentos sociais. Em fevereiro deste ano, durante o Congresso do MST, em Brasília, Dilma foi ao Mato Grosso se encontrar com aliados e "comemorar" mais uma safra de soja. É deles que vem o dinheiro para fazer sua campanha multimilionária e é com eles que ela vai comemorar mais uma safra de votos, se vencer as eleições.



Dilma tem um importante histórico de luta contra a ditadura. Ficou presa durante quase três anos. Mas infelizmente a Dilma de hoje não é a mesma da juventude. A Dilma mudou. A Dilma está com Kátia Abreu, que está com a soja, que está com ouro, com a Dilma, com o agronegócio, com os transgênicos, com os agrotóxicos, com a monocultura, com a depredação ambiental, com o superavit na balança comercial, com a defesa da paz burguesa. Infelizmente.

Até agora, o principal argumento que ouço para votar em Dilma é o que o Aécio é pior. Esse é um argumento muito frágil.


Enfim, estou aberto ao debate. Talvez ainda possa ser convencido até o dia 26.

Meu partido, o PSOL, deixou em aberto: anular ou votar em Dilma: http://www.psol50.org.br/site/noticias/3014/seguir-lutando-para-mudar-o-brasil