sábado, 1 de fevereiro de 2014

Além do horizonte, uma bicicletada!



Ontem, realizei um antigo sonho: participar da bicicletada, um passeio ciclístico que acontece na última sexta-feira de cada mês em muitas cidades do mundo, inclusive Brasília. A gente se concentrou em frente ao Museu Nacional às 19 horas e partimos às 20h, mais ou menos 20 pessoas. O trajeto foi decidido coletivamente, na reunião que antecede a pedalada. Fiquei impressionado com o cuidado e a presteza do pessoal, a preocupação de pedalarmos em um ritmo tranquilo, que todos pudessem acompanhar, sem deixar ninguém para trás.

            O movimento é bastante horizontal, anárquico. Faz da bicicleta não somente um equipamento de lazer, mas também um meio de transporte, uma ferramenta anti-capitalista, subversiva, revolucionária. Um instrumento de combate à carrocracia[1] e à opressão, por um mundo mais humanos e menos motorizado. Isso se torna muito mais especial por acontecer em Brasília, uma cidade originalmente projetada para carros. Reza a lenda que Lúcio Costa, o urbanista que elaborou o projeto do plano piloto de Brasília na década de 1950, disse o seguinte: “Não imagino ninguém no século XXI sem carro.” Daí o fato de projetar Brasília como se todos tivessem um carro. O século XXI chegou a galope, já entrou na sua segunda década, e o carro tem se mostrado um meio de transporte caro, poluente, violento e que reflete um uso irracional do solo urbano, gerando grandes congestionamentos. A bicicleta aparece como uma alternativa sustentável, barata e altamente viável, sobretudo para terrenos mais planos, como o de Brasília.

                A bicicletada não é apenas um passeio ciclístico, é um movimento político. Passamos por lugares movimentados, bares e restaurantes lotados entoando palavras de ordem como:

“Mais bicicletas, menos carros.
Mais adrenalina, menos gasolina.
Mais amor, menos motor.
Mais tesão, menos combustão.”

“No posto de gasolina, não gasto dinheiro meu
No posto de gasolina só encho meu pneu.”

“Ocupa, ocupa, ocupa e padala.”

Já estive do outro lado: sentado na mesa do bar e vendo as bicicletas passarem. Morria de vontade de um dia estar com eles, pedalando, revolucionando e sambando na cara do sociedade. Este dia chegou.
Outra coisa que me surpreendeu no movimento foi a simplicidade. Os ciclistas da bicicletada não são atletas de elite, que gastam rios de dinheiro com bicicletas, equipamentos e roupas caras. São pessoas comuns, como eu e você, e que decidiram “gozar a liberdade de uma vida sem frescura.”, ousaram quebrar o marasmo e pedalar, resolveram transformar a revolta em arte, alegria, mobilização.

Se você curtiu e quer conhecer, apareça na próxima bicicletada, na última sexta-feira do mês de fevereiro, em frente ao Museu e à Biblioteca Nacional. Se não é de Brasília, procure a galera da bicicletada de sua cidade ou crie uma, se ainda não existir.

Tony Gigliotti Bezerra, militante socialista, do Juntos e do PSOL

Para saber mais:
https://www.facebook.com/groups/bicicletadadf/
http://bicicletadadf.blogspot.com.br/




[1] Carrocracia é um sistema econômico e político que promove o carro, transporte individual e motorizado, como única alternativa de vida, como símbolo de status e fonte de desigualdades e hierarquias sociais.

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