Ontem, realizei um antigo sonho:
participar da bicicletada, um passeio ciclístico que acontece na última
sexta-feira de cada mês em muitas cidades do mundo, inclusive Brasília. A gente
se concentrou em frente ao Museu Nacional às 19 horas e partimos às 20h, mais
ou menos 20 pessoas. O trajeto foi decidido coletivamente, na reunião que
antecede a pedalada. Fiquei impressionado com o cuidado e a presteza do pessoal, a preocupação de pedalarmos em um ritmo tranquilo, que todos pudessem acompanhar, sem deixar ninguém para trás.
O
movimento é bastante horizontal, anárquico. Faz da bicicleta não somente um
equipamento de lazer, mas também um meio de transporte, uma ferramenta
anti-capitalista, subversiva, revolucionária. Um instrumento de combate à
carrocracia[1] e
à opressão, por um mundo mais humanos e menos motorizado. Isso se torna muito
mais especial por acontecer em Brasília, uma cidade originalmente projetada
para carros. Reza a lenda que Lúcio Costa, o urbanista que elaborou o projeto
do plano piloto de Brasília na década de 1950, disse o seguinte: “Não imagino
ninguém no século XXI sem carro.” Daí o fato de projetar Brasília como se todos
tivessem um carro. O século XXI chegou a galope, já entrou na sua segunda
década, e o carro tem se mostrado um meio de transporte caro, poluente,
violento e que reflete um uso irracional do solo urbano, gerando grandes
congestionamentos. A bicicleta aparece como uma alternativa sustentável, barata
e altamente viável, sobretudo para terrenos mais planos, como o de Brasília.
A
bicicletada não é apenas um passeio ciclístico, é um movimento político.
Passamos por lugares movimentados, bares e restaurantes lotados entoando
palavras de ordem como:
“Mais
bicicletas, menos carros.
Mais
adrenalina, menos gasolina.
Mais amor,
menos motor.
Mais tesão,
menos combustão.”
“No posto de
gasolina, não gasto dinheiro meu
No posto de gasolina só encho meu pneu.”
“Ocupa, ocupa, ocupa e padala.”
Já estive do outro lado: sentado na mesa do bar e vendo as
bicicletas passarem. Morria de vontade de um dia estar com eles, pedalando,
revolucionando e sambando na cara do sociedade. Este dia chegou.
Outra coisa que me surpreendeu no movimento foi a
simplicidade. Os ciclistas da bicicletada não são atletas de elite, que gastam
rios de dinheiro com bicicletas, equipamentos e roupas caras. São pessoas
comuns, como eu e você, e que decidiram “gozar a liberdade de uma vida sem
frescura.”, ousaram quebrar o marasmo e pedalar, resolveram transformar a
revolta em arte, alegria, mobilização.
Se você curtiu e quer conhecer, apareça na próxima
bicicletada, na última sexta-feira do mês de fevereiro, em frente ao Museu e à
Biblioteca Nacional. Se não é de Brasília, procure a galera da bicicletada de
sua cidade ou crie uma, se ainda não existir.
Tony Gigliotti Bezerra, militante socialista, do Juntos e do
PSOL
Para saber mais:
https://www.facebook.com/groups/bicicletadadf/
http://bicicletadadf.blogspot.com.br/
[1] Carrocracia
é um sistema econômico e político que promove o carro, transporte individual e
motorizado, como única alternativa de vida, como símbolo de status e fonte de
desigualdades e hierarquias sociais.
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